quarta-feira, 29 de setembro de 2010

quarto estranho

A cama não acolhe e o travesseiro grita: levanta!
Sono, tantos dias mal dormido, vem pra casa, volta.
Me engole, me embala, me dorme, dorme, dorme...

terça-feira, 28 de setembro de 2010

...

unha no tapete, arranhando o carinho que não há....
(...)
vermelho...


Cio - Kiko Dinucci/Douglas Germano

sábado, 25 de setembro de 2010

pensamento noturno...

Sinto a neblina
Meu beijo fere a madrugada
Quem me trouxe aqui
Foi o luar pra te dizer
Que a noite vai dar
Onde eu começo a me perder

Caso eu encontrar
No olho gasto da desilusão
A tempestade junto a imensidão
Corro sem cessar
Corro sem cessar

Rasgo a navalha a voz da razão
Na mesma canção
Na mesma canção

Kiko Dinucci - Ressureição

domingo, 19 de setembro de 2010

Chuva de verão

"E depois, chuva de verão...


Sabem o que é uma chuva de verão?

Primeiro, a beleza pura rompendo o céu de verão, esse temor respeitoso que toma conta do coração, sentir-se tão irrisório no próprio centro do sublime, tão frágil e tão repleto da majestade das coisas, siderado, agarrado, radiante pela munificência do mundo.

Em seguida, caminhar por um corredor e, de repente, penetrar num quarto de luz. Outra dimensão, certezas que acabam de nascer. O corpo já não é uma ganga, o espírito habita as nuvens, a força da água é dela, dias felizes se anunciam, num novo nascimento.

Depois, como as lágrimas, às vezes, quando são redondas, fortes e solidárias, deixam atrás de si uma longa praia lavada de discórdia, a chuva, no verão, varrendo a poeira imóvel é para a alma das criaturas como uma respiração sem fim.


Assim, certas chuvas de verão se implantam em nós como um novo coração que bate em uníssono com o outro."


Muriel Barbery
A elegância do ouriço


é isso... eu quero uma chuva de verão...

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Suspenso

Sol. Grama. Piquenique.
Bolo de cenoura e sanduíche.
Chá. Chuva. Chuva!
Não cabe tudo nas mãos.
Corre. Corre!
Bolo molhado, sanduíche molenga, chá aguado.
Não deu tempo...

A função da arte/1

Diego não conhecia o mar. O pai, Santiago Kovadloff, levou-o para que descobrisse o mar. Viajaram para o Sul.
Ele, o mar, estava do outro lado das dunas altas, esperando.
Quando o menino e o pai enfim alcançaram aquelas alturas de areia, depois de muito caminhar, o mar estava na frente de seus olhos. E foi tanta a imensidão do mar, e tanto o seu fulgor, que o menino ficou mudo de beleza.
E quando finalmente conseguiu falar, tremendo, gaguejando, pediu ao pai:
- Me ajuda a olhar!

O Livro dos abraços
Eduardo Galeano