domingo, 26 de fevereiro de 2012

Amargo

Eu andei espalhando que esse ano era lindo, não é? Ah doce ilusão. E a ilusão tem essa mania de ser doce. Inferno. Lindos dias. Pra depois entender que é tudo igual. As mesmas dores, os mesmos quereres, as mesmas frustrações. Ah vício, me larga. Me esquece. Vai viajar por outras bandas. Chega desse gosto amargo na boca, dessa mentira que não existe no meu universo vivo. É ano de tanta mudança, muda isso também. Mais forte, mais intenso, e a decepção mais rápida. Proporcional. Chega. Chega dos domingos vazios, dos feriados ausentes. Chega. Ninguém merece viver assim. NINGUÉM.

1, 2, 3 e já! Restarteei! Posso começar?

Para que a gente escreve,
se não é para juntar nossos pedacinhos?
Eduardo Galeano

sábado, 18 de fevereiro de 2012

Selvagem amor

Não conheço seu nome ou paradeiro
Adivinho seu rastro e cheiro
Vou armado de dentes e coragem
Vou morder sua carne selvagem
Varo a noite sem cochilar, aflito
Amanheço imitando o seu grito
Me aproximo rondando a sua toca
E ao me ver você me provoca
Você canta a sua agonia louca
Água me borbulha na boca
Minha presa rugindo sua raça
Pernas se debatendo e o seu fervor
Eu me espicho no espaço feito um gato
Pra pegar você, bicho do mato
Saciar a sua avidez mestiça
Que ao me ver se encolhe e me atiça
E num mesmo impulso me expulsa e abraça
Nossas peles grudando de suor
De tocaia fico a espreitar a fera
Logo dou-lhe o bote certeiro
Já conheço seu dorso de gazela
Cavalo brabo montado em pelo
Dominante, não se desembaraça
Ofegante, é dona do seu senhor
Hoje é o dia da graça,
hoje é o dia da caça e do caçador
(Caçada - Chico Buarque)
"O polvo tem os olhos do pescador que o atravessa. É de terra o homem que será comido pela terra que lhe dá de comer. O filho come a mãe e a terra come o céu cada vez que recebe a chuva de seus peitos. A flor se fecha, glutona, sobre o bico do pássaro faminto de seus méis. Não há esperado que não seja esperador nem amante que nao seja boca e bocado, devorador devorado: os amantes se comem entre si de ponta a ponta, todos todinhos, todo-poderosos, todo-possuídos, sem que fique sobrando a ponta de uma orelha ou um dedo do pé." - Eduardo Galeano

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Carnaval de amor

Um silêncio sem tempo de cessar. Será? Difícil falar esse ano. Cabeça que gira gira, asas gigantes para a criação. Mas falar, falar mesmo, colocar em palavras pensamentos coerentes, tem sido difícil. O ano começou lindo, e continua lindo. Esquecerem de me avisar que lindo não é sinônimo de fácil. São alguns princípios que retornam, e retornaram com força total. Alguns esquecimentos nem tão esquecidos. Algumas feridas pouco cicatrizadas, arreganhadas mais uma vez, tirei a casquinha. Sem remédio, remediado está. E com um ano novo, surgem os novos atrapalhos, as novas dúvidas. Novas responsabilidades, que bom. Novos propósitos bem reais. E muitas novas alegrias, muitas novas pessoas participando da vida. Acabou de cair uma chuvica de verão. Curitiba tá precisando de uma chuvona pra levar as lágrimas, pra esfriar a cabeça e pensar com coerência. Brinquei comigo na sexta, que seria literalmente Garibaldi vai à praia. Levei minha alegria pro litoral e fiquei em paz. Na volta, o susto, o choque. O desespero de falar com os amigos que sabia estarem lá, não quero sentir isso nunca mais. Acordar chorando com o medo de algo que nem foi, imagina se tivesse sido? Pedir amor é pedir muito? Finalmente algumas lágrimas rolaram, que essa vida que é linda me cure dessa tristeza. Que possamos brincar o carnaval, pular na multidão. Olhar, não. Só não vê quem não quer, só vê quem quer muito.