quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Tum tum tum

Não é também um desespero para que o novo ano comece. Mas são tantas coisas novas por vir que não aguento mais esse número 11 depois do 20. Na escola adorava quando trocava o ano, enjoava de escrever sempre o mesmo fim na data no caderno. Hoje eu e minha mãe movemos os entulhos embaixo da escada. Minha nossa. Lembranças pulando no meu cangote e me lembrando de onde vim. Certificado de honra ao mérito, poesia premiada, cadernos caprichados e organizados. Vendo tudo isso, descobri que minha organização foi por água abaixo na faculdade, pois antes dela eu era um exemplo. Revirei cartinhas e cartões, não consegui jogar os mais queridos. Ah, encontrei papés de carta não usados, que me obrigam a escrever carta pra alguém. Bizarrice é pouco: encontrei um potinho com todos os meus dentes de leite. ECA! O que faço com eles? Tento um milhão colocando todos ao mesmo tempo embaixo do travesseiro? Nesse momento "o que fazer com dentes de leite" minha mãe incrivelmente lembra que tem os umbigos (meu e da minha irmã) enrolados numa gaze grudada com fita crepe amarela, guardados no fundo não sei de onde. E me pergunta o que fazer com eles. Acho que joga no mar, pra me desgrudar do umbigo dela, não? Sei que não é por mal, mas entendi a energia que me segura, meu umbigo está literalmente guardado aqui nessa casa. Hoje me sinto menina, mesma insônia de quando tinha meus sonhos mirabolantes, de quando achava que com 22 anos estaria morando sozinha e super viajando pela vida. Meu umbigo vai se desgrudar e isso é uma delícia. Não vejo a hora, na verdade. Difícil, talvez. Mas acho que vai ser tão bom que quando ficar difícil eu largo um sorrizinho de canto. Eita trabalho bom que vem aí! Mais ansiosa ainda pra mergulhar corpo, alma e coração nessa intensidade toda. Ah que energia! Torço por um banho de cachoeira, próximo. Vai me limpar dessa coisa louca que sou eu ansiosa, me ajuda a botar em ordem as coisas pra vida andar. Tá andando rápido heim. Nunca na minha enorme vida pensei que me veria trabalhando tanto nessa época do ano. Eu, BG maior, sem uns dias de mato no fim/começo do ano. O que novos planos não fazem com a vida de uma pessoa. Garanto que minha alma BG continua intacta. Tenho bons planos de plantar cebolinha e outros temperos numa hortinha fofa. Pronto insônia, escrevi, posso dormir?

Ah, inclusive hoje no fuça-fuça descobri que minha alma BG existe antes de eu existir inteira.
Se deleitem com as últimas estrofes da poesia autoral, vencedora na quinta série.

 Palavra não foi feita para semear
a dúvida, a tristeza ou o mal-estar.
Destino da palavra é a construção
de um mundo mais feliz e mais irmão.

Palavra não foi feita para dividir ninguém.
Palavra é a ponte onde o amor vai e vem.

Depois dessa, alguém duvida? ahahahahaha 

Ainda mereço?

sábado, 10 de dezembro de 2011

Fim do ciclo seco

Findo.

Linda responsável pelo fim do ciclo seco.
Voltam as tempestades e trovões,
a brisa e os corações,
volta o céu azul, a lua brilhante, o amor,
a saudade, a vontade, a cor, a dor, a coragem.
A volta do mundo em mim.
Obrigada Efigênia Rolim!

domingo, 4 de dezembro de 2011

O ano acabou?

Não escrevo pra reclamar do cansaço, nem pra dizer quão pesado é o fim do ano, e muito menos pra falar das mudanças e esperanças de um ano novo. O que eu quero saber mesmo é se esse ano já acabou. Me sinto num vácuo entre 2011 e 2012. Algo sem nome, um pedaço de ano que não é mais 2011 com suas loucuras, vícios e leões pra matar, e tecnicamente não é 2012, ainda não fizemos a contagem regressiva. Um sem lugar, sem nome, sem razão. Tenho feito escolhas, tenho vivido outra vida. Foco no objetivo final, sacrifico meus dias de dezembro. Outro dia pensei que assim perco meu precioso fim do ano. Porém, não vejo verão, não vejo aquele ar alegre de férias, não vejo a intensidade dos pensamentos de Natal, não vejo o amor à flor da pele. O mundo passa por um ciclo seco? Explico.

Caio Fernando Abreu escreve sobre esse tempo, identificando-o como um tempo que "visto de fora, não é visível nem identificável. Não se confunde com “depressão”, quando você deixa de fazer o que devia, ou com 'euforia', quando você faz em excesso o que não devia. Em ciclo seco faz-se exatamente o que se deve ou não, desde escovar os dentes de manhã ou beber um uísque à tardinha, mas sem prazer. Nem desprazer: em ciclo seco apenas se age, sem adjetivos.".

O mundo passa por um ciclo seco? Um precipício onde emoções, boas ou ruins, se perdem.

"E falando-se dele, diga-se ainda que ciclo seco não é bom nem mau, feio ou bonito, inteligente ou burro (...). Ciclo seco, por exemplo, não se interessa por nada. Pior que não ter o que dizer, ciclo seco não tem o que ouvir, compreende? Fica na mais completa indiferença seja ao terremoto no Japão ou à demissão de Vera Fischer. No plano pessoal, tanto faz ler ou não ler um livro, ir ou não ao cinema — ciclo seco é incapaz de se distrair, de se evadir. Fica voltado para dentro o tempo todo, atento a que é um mistério, pois que pode um ciclo seco observar de si mesmo além da própria secura, se não há sequer temporais, ventanias, chuvaradas?".

Vazio, assim, seco. Segundo Caio, nada se pode fazer, a não ser esperar passar. "É preciso acreditar que passa, embora quando dentro dele seja difícil e quase impossível acreditar não só nisso, mas em qualquer outra coisa. Não que ciclo seco não tenha fé, o que acontece é que não podendo ver o que não é visível, fica limitado ao real.(...) Até lá, recomenda-se fazer modestamente o que se tem a fazer com o máximo de disciplina e ordem, sem querer novidades. Chatíssimo bem sei.". Absurdamente chato. É só deserto, um gigantesco e árido oco vazio. E não consigo nem maldizer esse já maldito ciclo seco. Aguardo ansiosa as ventanias e tempestades, a euforia, o frio na barriga e a volta de todos os meus quereres.