domingo, 4 de dezembro de 2011

O ano acabou?

Não escrevo pra reclamar do cansaço, nem pra dizer quão pesado é o fim do ano, e muito menos pra falar das mudanças e esperanças de um ano novo. O que eu quero saber mesmo é se esse ano já acabou. Me sinto num vácuo entre 2011 e 2012. Algo sem nome, um pedaço de ano que não é mais 2011 com suas loucuras, vícios e leões pra matar, e tecnicamente não é 2012, ainda não fizemos a contagem regressiva. Um sem lugar, sem nome, sem razão. Tenho feito escolhas, tenho vivido outra vida. Foco no objetivo final, sacrifico meus dias de dezembro. Outro dia pensei que assim perco meu precioso fim do ano. Porém, não vejo verão, não vejo aquele ar alegre de férias, não vejo a intensidade dos pensamentos de Natal, não vejo o amor à flor da pele. O mundo passa por um ciclo seco? Explico.

Caio Fernando Abreu escreve sobre esse tempo, identificando-o como um tempo que "visto de fora, não é visível nem identificável. Não se confunde com “depressão”, quando você deixa de fazer o que devia, ou com 'euforia', quando você faz em excesso o que não devia. Em ciclo seco faz-se exatamente o que se deve ou não, desde escovar os dentes de manhã ou beber um uísque à tardinha, mas sem prazer. Nem desprazer: em ciclo seco apenas se age, sem adjetivos.".

O mundo passa por um ciclo seco? Um precipício onde emoções, boas ou ruins, se perdem.

"E falando-se dele, diga-se ainda que ciclo seco não é bom nem mau, feio ou bonito, inteligente ou burro (...). Ciclo seco, por exemplo, não se interessa por nada. Pior que não ter o que dizer, ciclo seco não tem o que ouvir, compreende? Fica na mais completa indiferença seja ao terremoto no Japão ou à demissão de Vera Fischer. No plano pessoal, tanto faz ler ou não ler um livro, ir ou não ao cinema — ciclo seco é incapaz de se distrair, de se evadir. Fica voltado para dentro o tempo todo, atento a que é um mistério, pois que pode um ciclo seco observar de si mesmo além da própria secura, se não há sequer temporais, ventanias, chuvaradas?".

Vazio, assim, seco. Segundo Caio, nada se pode fazer, a não ser esperar passar. "É preciso acreditar que passa, embora quando dentro dele seja difícil e quase impossível acreditar não só nisso, mas em qualquer outra coisa. Não que ciclo seco não tenha fé, o que acontece é que não podendo ver o que não é visível, fica limitado ao real.(...) Até lá, recomenda-se fazer modestamente o que se tem a fazer com o máximo de disciplina e ordem, sem querer novidades. Chatíssimo bem sei.". Absurdamente chato. É só deserto, um gigantesco e árido oco vazio. E não consigo nem maldizer esse já maldito ciclo seco. Aguardo ansiosa as ventanias e tempestades, a euforia, o frio na barriga e a volta de todos os meus quereres.


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